Pesquisadora egressa da Unimontes é aprovada em edital voltado para cientistas negros e indígenas – Thamyres Sabrina carrega história de superação


“A Unimontes para mim já foi um sonho, já foi realidade, já foi casa. Hoje, é presença, é sobrenome na minha trajetória enquanto acadêmica, intelectual e como ser humano”. A declaração é da pesquisadora Thamyres Sabrina Gonçalves, egressa do curso de Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros, que foi aprovada em edital da chamada pública exclusiva para cientistas negros e indígenas da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Instituto Serrapilheira.

A iniciativa, com foco em ecologia, tem como objetivo que mais pessoas de grupos sub-representados sejam formalmente integradas à academia como professores universitários e pesquisadores. O valor total de investimento é de até R$ 14,7 milhões, sendo que cada pesquisador aprovado vai receber uma bolsa mensal de R$ 8 mil, além de até R$ 800 mil para o financiamento do projeto durante três anos, renováveis por mais dois anos.

O projeto de pesquisa de Thamyres Sabrina vai investigar como o achado de carvão no subsolo pode ajudar a compreender a história evolutiva da Serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e a Bahia. O objetivo do estudo é usar o carvão vegetal como pista para entender como se deu a dinâmica de expansão e retração entre florestas e campos no passado na Serra do Espinhaço, podendo oferecer indícios de uma presença humana em épocas anteriores na região.
Pela chamada Serrapilheira-Faperj, ela vai integrar o Laboratório de Arqueologia da Paisagem do Museu Nacional da UFRJ para trabalhar junto à antropologia na reconstituição da história da região.

Thamyres Sabrina, de 33 anos, carrega uma história de superação. Na infância, enfrentou a extrema pobreza, já que a mãe viveu em situação de rua.

Ela ingressou no curso de Geografia Unimontes em 2010, por meio do sistema de cotas que contempla pessoas negras, de baixa renda, tendo concluído a graduação em 2013. Na instituição, se interessou pela pesquisa e foi contemplada como bolsista do Programa de Bolsas de Iniciação Científica voltado para cotistas (PIBIC nas Ações Afirmativas). Também participou de trabalhos científicos no Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal.

A egressa da Unimontes concluiu o mestrado em Engenharia Florestal na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri (UFVJM), em Diamantina, onde também fez o doutorado em Produção Vegetal – na área de Classificação, Manejo e Caracterização de Solos.

Investigar a evolução e história humana na Serra do Espinhaço

“O meu projeto aprovado no edital da Faperj/Instituto Serrapilheira objetiva entender um pouco da história de origem, formação e evolução da paisagem, dos solos e das florestas da Serra do Espinhaço Meridional, utilizando fragmentos microscópicos de carvão presentes no solo como vestígios do passado da vegetação, que talvez ajudem a entender também um pouco da história humana na nossa região, mas isso é hipótese”, explica a geógrafa e pesquisadora.

“O que será feito é tentar provar que esses fragmentos microscópicos no solo são mesmo restos de carvão de árvores que já fizeram parte da vegetação a milhares de anos atrás, e tentar aprofundar o quanto for possível de conhecimento sobre esses pequeninos supostos carvões, para ver se eles vieram de um fogo que ocorria naturalmente, ou se de um fogo provocado pela ação humana, enfim tentar ver o que esses carvões podem nos ensinar sobre a paisagem”, relata Thamyres Sabrina.

Ela ressalta ainda que dará continuidade ao estudo realizado durante o seu curso de doutorado na UFVJM, em Diamantina. “A primeira fase do projeto tem sido conhecer o trabalho do Instituto Serrapilheira, que envolve um compromisso com a ciência aberta, colaborativa e antirracista, a divulgação cientifica em linguagem acessível ao povo, e a ideia de que tudo isso pode ser feito com pesquisa de excelência”, conclui a egressa da Unimontes.
Pró-reitora destaca empenho e dedicação de pesquisadora

A professora e pesquisadora Maria das Dores Magalhães Veloso, atual pró-reitora de Pesquisa da Unimontes, foi orientadora de pesquisa científica de Thamyres Sabrina e enaltece a superação e crescimento da egressa da instituição estadual. Eu acompanho Thamyres Sabrina desde a graduação, quando ela era estudante de Geografia na Unimontes. Com anseios de ter um conhecimento amplo, ela veio participar da Iniciação Científica Voluntária no Laboratório de Ecologia Vegetal. Posteriormente, em função do seu empenho e dedicação, foi contemplada com uma Bolsa de Iniciação Científica”, descreve a pró-reitora.

“Após concluída a graduação, com a constante vontade de mudança na sua vida, de escrever sua história, Sabrina continuou lutando bravamente contra todos os obstáculos e ingressando no mestrado e no doutorado, e sendo abençoada por Deus com uma companheirinha, a Sofia. Hoje com mais esta conquista, que certamente será a porta do seu futuro para conquistas maiores, vejo que vale a pena pegar na mão dos nossos alunos, pois basta um aperto de mão e um subentendido “estou com você” para que as potencialidades desabrochem”, conclui a professora Maria das Dores Magalhães Veloso.

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