A presença das obras de Gemma no PAES é mais do que reconhecimento artístico: é um resgate afetivo e cultural do Norte de Minas. Nascido e criado na zona rural, o artista traduz em suas pinturas o cotidiano e as memórias do interior, com uma abordagem espontânea, intuitiva e carregada de significados que nem sempre são planejados — mas sempre são sentidos.

Durante o período em que viveu na cidade, suas telas seguiram uma linha mais urbana, o que ele mesmo relaciona à tentativa de adequação ao mercado. Ainda assim, fazia questão de pintar o que gostava. De volta à zona rural, reencontrou a própria linguagem: passou a retratar figuras, cenas e ofícios em desaparecimento, como lavadeiras de rio, fazedores de balaio ou quem ainda utiliza o pilão de madeira para preparar paçoca. “Nasci e me criei na roça, fui morar na cidade com pouco mais de vinte anos. Quando retornei ao campo, revisitando essas memórias dessas profissões, pintei essa série de quadros”, conta.
Seu processo criativo é guiado pela liberdade. As telas nascem sem esboço definido, a partir de rabiscos que se transformam em figuras femininas ou cenas do cotidiano rural. “Se eu achar que falta alguma coisa para compor, para melhorar, para equilibrar, ali mesmo eu coloco outro elemento. É uma coisa que surge na hora”, explica. Os títulos, inclusive, vêm depois — quase como uma análise feita pelo próprio autor diante da obra já pronta.
Essa abertura também se reflete na relação com o público. Gemma reconhece que nem sempre a intenção do artista encontra eco na interpretação de quem vê a obra. E tudo bem. “A pessoa olha o quadro e diz: esse quadro é a minha cara. E leva. A interpretação é dela, não precisa coincidir com a minha. A pintura é isso.”
Ele se diz instável quanto ao estilo, embora tenha uma forte inclinação ao expressionismo. Prefere o gesto solto, emotivo, à técnica excessivamente elaborada. “A pintura antes era usada para documentar. Hoje ela é mais decorativa. Mas mesmo assim ela registra alguma coisa.” Nas suas obras, esse registro aparece nas figuras de camponeses com viola, em cenas bucólicas, às vezes saudosistas. “É mais interessante pintar um violeiro do que uma banda de rock. Talvez seja coisa do coração mesmo, da vivência, da infância.”
As obras selecionadas para o Vestibular e o PAES da Unimontes estão disponíveis no instagram do artista. “Também estou à disposição para os vestibulandos e estudantes que quiserem conversar, discutir e, principalmente, se inspirar com minhas telas”, finaliza.
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